O Nuparq e a importância do patrimônio arqueológico do Amapá
Conversamos com Lúcio Costa Leite, Gerente do Núcleo de Pesquisa Arqueológica do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá – IEPA. Confira a entrevista e entenda como funciona o Nuparq – Iepa.
ANM: Que tipo de ações o Núcleo de Pesquisas Arqueológicas (Nuparq – Iepa) tem executado no Amapá?
Lúcio: O patrimônio arqueológico do Amapá é bastante diversificado, podendo ser encontrado na forma de cacos cerâmicos, contextos funerários, fragmentos de pedra lascada, monumentos como a Fortaleza de São José, as ruínas da antiga cidade de Mazagão e os megalitos de Calçoene.
O Núcleo de Pesquisa Arqueológica (Nuparq) existe desde 2005. É parte do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA). Foi criado pelo Governo do Estado do Amapá como um setor estratégico para o atendimento de pesquisas quanto ao licenciamento arqueológico prévio em obras de infraestrutura como, a construção de rodovias estaduais, obras de mobilidade urbana e conjuntos habitacionais. O Nuparq atende pela identificação, registro e salvamento de um bom número dos 550 sítios arqueológicos mapeados nas regiões sul, norte e central do estado.
Além disso, o Nuparq investe na formação de pesquisadores através de programas de iniciação científica júnior (ICJr), iniciação científica (IC) e de técnicos. O sucesso desse programa pode ser visto na formação de vários arqueólogos nas principais universidades do país. Os investimentos na formação de pesquisadores também resultaram na organização da primeira turma de especialização em patrimônio arqueológico do Amapá, uma parceria do IEPA, UEAP, IPHAN-AP e o Ministério Público Estadual.
Escavações em Santa Luzia do Pacuí. Foto: NuPArq/IEPA.
ANM: Como foi participar do resgate arqueológico em Santa Luzia do Pacuí?
Lúcio: O sítio arqueológico de Santa Luzia do Pacuí é gigantesco. Está localizado a 113 km de Macapá na comunidade de mesmo nome. É conhecido há duas décadas a partir de artefatos e utensílios de cerâmica. A
identificação desses materiais foi realizada pelos próprios moradores de Santa Luzia. O registro aconteceu durante as atividades do Gerenciamento Costeiro do IEPA (GERCO). As escavações arqueológicas no sítio começaram em outubro de 2017 e estão previstas pelos menos duas novas etapas de escavação para o ano de 2018.
Escavações em Santa Luzia do Pacuí. Foto: NuPArq/IEPA.
Essas escavações integram o projeto “Resgate Arqueológico e Educação Patrimonial ao longo da rodovia EAP – 70”, resultado de um convênio entre IEPA e a Secretaria de Estado de Transportes (SETRAP). O objetivo do projeto é o acompanhamento arqueológico das obras de conservação e asfaltamento da rodovia AP – 70, além de ações em educação patrimonial com os moradores do entorno desse sítio arqueológico Já identificamos pelo menos 26 urnas funerárias na área do sítio de Santa Luzia do Pacuí. A quantidade e expressividade desses materiais são um indício que a área foi habitada por grupos indígenas, indicando atividades como a pesca, a agricultura e tecnologias da fabricação da cerâmica. As escavações no sítio também demonstram a prática de sepultamentos em urnas funerárias cerâmicas, uma prática também identificada em vários outros sítios arqueológicos do Amapá.
ANM: A exposição “Arqueologia sob nossos Pés” tem relação com o resgate arqueológico em Santa Luzia ou se trata da apresentação de outras expedições?
Lúcio: A exposição “Arqueologia sob nossos pés”, organizada pelo Nuparq e inteiramente produzida pelo Sereia Abacaxi é uma das ações da equipe de educação patrimonial do núcleo. Foi planejada como uma alternativa para dar visibilidade às pesquisas arqueológicas realizadas pelo Nuparq. Considerando que o núcleo possui uma das maiores reservas técnicas de arqueologia da Amazônia, responsável pela salvaguarda definitiva de vestígios de 58 sítios arqueológicos de todo o Amapá, a ideia da exposição é levar aos interiores do Estado os resultados das pesquisas que realizamos, atendendo ao compromisso com as comunidades onde atuamos.
Escavações em Santa Luzia do Pacuí. Foto: NuPArq/IEPA.
ANM: Qual foi a situação mais inusitada pela qual vocês já tiveram que passar durante uma expedição?
Lúcio: Acredito que a situação mais inusitada que passei na arqueologia está relacionada a uma atividade de campo em uma área de extração mineral no município de Tartarugalzinho. Na ocasião, um dia e meio de viagem em um trecho de 69 km, ficar atolado e dormir na estrada, quase ser picado por cobra, foi a minha mais assustadora e inesquecível aventura na arqueologia.
Escavações em Santa Luzia do Pacuí. Foto: NuPArq/IEPA.